31/07/2015

Redemption 4 - First Sign


4. Primeiro Sinal
POV. Justin
Depois do “incidente” com David naquela manhã eu fui para casa garantir que minha mãe passaria o dia fora, pois quando a polícia desse as caras – e eu tinha certeza que iria –, eu não precisasse lidar com ela nervosa e fazendo perguntas. Era óbvio que quando David acordasse no hospital me denunciar por agressão seria a primeira coisa que ele faria. E não deu outra. Na mesma tarde uma viatura parou na frente de casa e dois policiais tocaram o interfone, procurando por mim.
Logo eu atendi.
─ Estamos procurando pelo Sr. Bieber. – O policial mais alto perguntou.
─ Sou eu. – respondi com cautela.
─ Hoje de manhã recebemos uma denúncia dá própria vítima acusando o senhor de agressão, portanto precisaremos levar o senhor até a delegacia para prestar depoimento.
─ Tudo bem, deixe que eu pegue meus documentos.
─ Desculpe-nos, mas não podemos deixar que saia de nossas vistas. – o mais baixo falou.
─ Vocês não estão achando que eu vou entrar e fugir pelos fundos, estão? – brinquei, mas eles permaneceram sérios.
─ Peça para alguém lhe trazer seus documentos, garoto.
Tirei o celular do bolso e liguei para o telefone de casa, não demorou muito para que Rosalinda, nossa empregada, atendesse. Pedi pra que ela trouxesse meus documentos até o portão de entrada sem dar explicações. Quando ela apareceu na porta pude ver sua irritação por eu pedir algo tão bobo, mas quando ela se aproximou e viu os policiais comigo seu olhar se tornou alarmado.
─ O que está acontecendo, Justin?
─ Não é nada de mais, não se preocupe, Rosa. Daqui a pouco eu estou de volta, obrigado.
─ Mas e o que eu falo pra sua mãe quando ela chegar perguntando do senhor? – Eu insisto pra que ela me chame só de Justin, mas ela é ainda mais teimosa e insiste em me chamar de ‘senhor’.
─ Inventa qualquer coisa, só não diz que eu fui pra delegacia.
─ Ai, garoto, você só me arruma problema. Tudo bem, vá logo.
─ Obrigada, Rosa linda. – fiz um trocadilho com seu nome e ela riu.
[...]
Lá estava eu sentado naquela sala 4x4 com apenas uma mesa vazia na minha frente e a luz amarelada quase me cegando, enquanto eu esperava pelo delegado. Já havia se passado quase quarenta minutos desde que me colocaram lá dentro, era mais como se eu tivesse cometido um assassinato do que só me defendido de um pirralho metido.
A porta foi aberta e um homem que aparentava ter 50 anos, vestido com um terno cinza barato, entrou na sala e sentou-se à minha frente, jogando uma pasta em cima da mesa. Nela eu pude ver uma foto minha dentro e meu nome.
 ─ Justin Bieber, acusado de agressão física, resultando na vítima hospitalizada.
─ Ah, por favor. – debochei. – Aquele lá ta fazendo drama.
─ Eu ficaria quieto, garoto, os fatos estão contra você.
─ Foi autodefesa. – me irritei, levantando da cadeira com raiva.
─ Acalme-se, Bieber. Sente-se, por favor. – Admito que toda a falsa calmaria daquele homem estava me dando nos nervos. ─ Voltando, sou o Delegado Norman Talbot e irei analisar seu caso.
─ Mas não tem nada pra analisar. Ele me atacou, eu me defendi. Fim da história.
─ Na denúncia, David Bates alegou que o senhor, Justin, o persegue nas aulas de dança e profere discursos de ódio contra ele?!
─ Claro que não!
─ Ok... Agora quero saber o seu lado da história.
─ Na ultima aula que dei, um dos alunos teve problemas com a namorada de David, eles se esbarraram e Kara saiu machucada. David ameaçou bater em Lucas e eu me coloquei na frente para impedi-lo de machucar Lucas. Foi onde consegui isso aqui. – Apontei para me olho ainda roxo. – Os 3 foram levados para a sala do diretor da academia e Kara e David foram suspensos. Eu que não estava me sentindo muito bem e só piorei depois do soco que levei no olho, terminei a aula mais cedo e estava caminhando até meu carro quando David chegou por trás e me prendeu contra meu carro e me ameaçou, caso eu não colocasse Kara de volta nas aulas. Eu disse que não ia fazer, até porque não era minha decisão e ele voltou a me bater, só que dessa vez eu me defendi e logo ele caiu. Mas então eu já não estava pensando claramente e continuei batendo, sem perceber o estado em que ele estava, até que Ryan chegou e impediu de fazer uma besteira maior. E foi isso.
─ Bom, vejamos. A sua versão bate com a de seu amigo Ryan e também do garoto Lucas, discordando das versões de Kara e David, o que me deixa num impasse. A pena por agressão física é de 1 à 3 meses de prisão, mas como a história não está totalmente clara pra mim, os dois – você e David – irão prestar serviços comunitários em Simi Valley e Lancaster, respectivamente, durante 2 meses.
A porta da sala foi aberta e um policial informou o delegado sobre alguns adolescentes com drogas em uma festa. O delegado, antes de deixar a sala, se virou pra mim e concluiu:
— Você está liberado, pode passar na recepção e buscar seus pertences. E, ah, talvez você devesse procurar um médico pra esse seu problema de perda de controle. Tenha uma boa noite. – Assenti.
Noite? Por quanto tempo eu fiquei aqui?
Ao chegar à recepção pude ver que a delegacia estava um caos. Muitos policiais entrando e saindo, levando jovens e adolescentes algemados para dentro das celas, telefones tocando, falação. Isso definitivamente não era bom pra mim.
Eu precisava sair dali antes de perder a cabeça novamente.
[...]
POV. Rebecca
A imundice da cela me dava ânsia de vômito, mas não havia nada que eu pudesse fazer, afinal, eu mesma tinha me colocado naquela situação. Depois de duas horas sentada no chão frio e ter recobrado minha consciência eu só conseguia pensar no quanto eu tinha sido estúpida.
Onde eu estava com a cabeça quando resolvi experimentar drogas num quarto de hotel com meu primo traficante e seu amigo que só Deus sabe de onde saiu? Eu estava perdida com tudo que acontecera nos últimos dias, mas não é justificativa. Nunca recebi notícias ruins de uma forma boa, ou pelo menos enxergo o lado positivo delas, mas isso... Eu definitivamente enlouqueci.
Agora estou atrás das grades, em cana, e serei fichada. Tudo porque eu não soube lidar com o fato de que fui adotada e não terei mais o dinheiro para manter meus luxos. Eu sou uma idiota.
Despertei de meus pensamentos quando algo bateu na grade da cela, um guarda havia batido as chaves. O guarda e meu pai estavam parados do outro lado me observando. O guarda indiferente e meu pai, vestido de terno e gravata divergindo com a sujeira do local, me olhava desacreditado.
— Alguma coisa a dizer antes de sair? – ele questionou.
— Não era pra ter acontecido isso. – Foi o que consegui dizer.
— Com certeza não. – meu pai ironizou.
A cela foi aberta e eu pude sair, caminhamos pelo corredor em silêncio com os dois atrás de mim. Andei rígida, pois os dois sem dizer nada me intimidavam.
Deus! Onde eu fui me meter? O que eu fiz para merecer essa virada de vida pra pior? Não poderia tudo ter ficado do jeito que era? Eu sei que ultimamente eu só penso em voltar atrás e também sei que não vai acontecer, mas eu continuo me iludindo, pensando que isso tudo é apenas um sonho ruim. Um pesadelo. Pois eu preciso de algo pra me agarrar pra continuar de pé, mesmo que seja um passado lotado de mentiras e felicidades irreais.
Quando chegamos em casa, depois de um caminho de completo silêncio, minha mãe nos esperava aflita na sala de estar. Quando me viu entrar se pôs de pé e andou apressada até onde eu estava e me abraçou forte.
— Graças a Deus! Está tudo bem com você, filha? Eu fiquei tão preocupada. Eu poderia processá-los por levar você para a delegacia. Seu pai deve ter esclarecido lá que foi tudo eu erro.
Meu corpo enrijeceu na hora. Ela não sabia o que eu havia feito. E meu pai com certeza iria contar. Nossa! Como eu gostaria de poder voltar algumas horas. Meu pai entrou pisando firme dentro de casa e minha mãe o olhou com preocupação. Ele marchou até a mesa de canto e encheu um copo com bebida, bebendo tudo de uma vez.
— Mas o que houve, Sebastian? Por que você está desse jeito?
— E você ainda pergunta? Eu tive que ir buscar SUA filha em uma delegacia cheia de adolescentes delinquentes. – Acredite em mim, doeu ao ouvir aquelas palavras. – E o pior é que ela merecia estar lá.
— Nossa filha. – ela o corrigiu. – O que quer dizer com ‘ela merecia’?
— Sua filinha perfeita estava se drogando em um quarto de hotel com o SEU sobrinho, Chuck.
Fechei os olhos com força e tampei os ouvidos quando ele gritou. Eu nunca o tinha visto dessa maneira, ele nunca havia gritado com a minha mãe, pelo menos não na minha frente. E então ele estava completamente alterado e por minha causa.
— Rebecca! Isso é verdade? – minha mãe perguntou olhando diretamente pra mim, sem querer acreditar.
— Eu acho que as lágrimas falsas dela comprovam o que eu digo.
Respirei fundo. — É, é verdade sim. – confirmo. – Mas eu não sei por que estão tão preocupados, afinal eu não sou filha de nenhum dos dois mesmo.
O silêncio pairou sobre a sala e ninguém falou nada por longos segundos. Sebastian voltou a encher seu copo e minha mãe sentou-se no sofá, derrotada. Eu queria sumir dali, como num passe de mágica, mas eu também não poderia. Não era assim que eu queria passar os últimos dias com as pessoas que foram minha família durante toda a minha vida. Eu sei, soa confuso, devido ao que eu acabei de dizer, mas não era aquilo que eu realmente pensava.
Contra a minha vontade as lágrimas começaram a cair e eu me sentei no sofá, sabendo que se eu continuasse de pé, eu desabaria. Eu não queria chorar na frente deles, eu odeio chorar na frente das pessoas, mas meus pais precisavam saber que eu não estava bem e que por mais que eu mostrasse que era forte, não era totalmente verdade.
Escondi o rosto entre as mãos e senti o assento do meu lado afundar. Minha mãe havia sentado e então me acolheu em seus braços. Limpei as lágrimas e respirei fundo, pronta pra falar tudo o que eu precisava colocar pra fora. Meu pai se virou para sair da sala, mas se virou de volta para continuar falando:
— Rebecca! – meu pai gritou. – Tem noção do quanto custou pra eu calar a boca daqueles policiais de merda pra tudo não vazar na mídia? Pra você não ter um histórico na polícia?
 ─ Pai, me desculpe. Quando eu disse que não era pra ter acontecido, era verdade. Eu não deveria ter aceitado entrar naquele hotel, como também não devia ter aceitado quando Chuck me ofereceu, mas eu não estava pensando direito. Mas vocês foram os egoístas que causaram tudo isso.
─ Não tente contornar a história dizendo que a culpa é nossa. Você sabe muito bem que está errada.
─ Sei, e não disse o contrário. Também sei que deve ter custado caro pra ninguém ficar sabendo que sua filha perfeita não é assim tão perfeita, não é? Que no final das contas todos os seus ensinamentos não contaram na hora dela ir se drogar em uma festa. Isso deve doer, não é, pai? – Cruzo os braços e paro na frente dele.
─ Já chega, Rebecca. Vá para seu quarto e aproveite sua última noite lá, amanhã seus verdadeiros pais virão para buscá-la.
─ Amanhã? – baixo a guarda.
─ Eles ligaram hoje, logo após você sair, dizendo que estava tudo pronto e que eles viriam amanhã. Não queriam esperar mais.
 ─ Mãe, não! Por favor, não! Pai, não me deixa ir com eles, por favor. Eu prometo ser uma filha melhor, nunca mais vou fazer nada errado, eu juro.
Por incrível que pareça eu estava sendo completamente sincera. Eu não queria ir e faria qualquer coisa pra ficar. Dessa vez eu estava completamente desesperada e assustada.
Eu abracei meu pai pela cintura firmemente e seu corpo estava rígido, mas então ele relaxou e me envolveu em seus braços protetores que eu sempre busquei com me assustava com alguma coisa quando criança, ele me fazia sentir segura.
Eu não queria abandoná-los.
─ Vocês só pensaram em si mesmos quando resolveram assinar um contrato pra me ter durante um tempo. Não pensaram em como eu me sentiria depois de viver anos com vocês e, do nada, ter que mudar de família, de casa, de vida. Isso não é justo.
Olhei sentida para os dois e fiz meu caminho para o quarto de cabeça baixa. Eu queria que eles se sentissem culpados pelo que eu estava sentindo. E, bom, acho que consegui. Tudo o que pude ouvir durante a madrugada foi minha mãe chorando.
E o primeiro sinal de que eu não era mais eu mesma foi que eu gostei de vê-la sentindo-se mal.
Continua...